sexta-feira, 11 de outubro de 2024

 


 

O Piano

                                                   Eliane D. Fernandes

 

A noite se apresentava sombria e mais escura do que de costume, a imagem de Nossa Senhora da Guia, em uma mesinha na sala, mostrava-se mais triste, um dos seus olhos tinha até perdido a sua cor iluminada. O que estaria para acontecer? Ou é imaginação de uma mente fértil, cheia de medos?

Andarilho era o meu irmão Arthur, corria todos os dias à procura de um físico mais saudável e um porte de atleta. Sempre que eu o via, ficava a dizer: por que tanto exagero se a vida corre tão rápida mesmo? Para que correr, já que ela corre por nós? Às vezes eu ficava com pena de quem corria tanto ou fazia exercícios sem parar. Exercícios faço, varrendo a casa, lavando o chão, enfim, fazendo os serviços domésticos. Seu Elias, dono de uma academia, dizia assim: - não serve. Ora, ora!

Acho, porém, que isso é conversa para convencer os que não gostam de trabalhar se esforçando, gostam é de sair de casa, passear e não ficar preso a serviços domésticos.

Sinceramente, eu, Maria de Chiquinho, adoro! Tenho saúde, varro, pego em baldes cheios d’água e depois vou tocar piano. Meu piano foi presente de meu pai, Chiquinho, comprado com muito esforço para satisfazer suas filhas gêmeas, eu e a Manu.

No silêncio e calma dos meus momentos, converso com meu piano e ele, sonoramente, me responde em cada nota que toco, e me diz em um só tom: - eu canto por ti, eu choro por ti e vibro a tua alma, em um dó, ré, mi...

Escondida em meu refúgio, tento sempre entender essa conversa sonora e interessante. Do meu piano vejo a santinha, ela também, com a sua força sagrada, parece, em alguns momentos, querer chorar, derramar lágrimas santas, ou me acalentar. Estava eu agarrada a pensamentos que me pareciam estranhos.

Na minha morada, florida pelas lindas jardineiras diversas, orquídeas floresciam. As cores penetravam no ambiente, dando um ar de perfeita harmonia.

O Arthur bem-humorado, sempre que podia, escancarava seus dentes em sorrisos de menino peralta, porém de muita criatividade. E foi assim, que resolveu oferecer uma grande festa a Nossa Senhora. Pediu dinheiro a mamãe Madá, foi na lojinha da Igreja e comprou diversas medalhinhas, para atender a religiosidade das pessoas que por lá em casa aparecessem. “Hum, que chance!” - dizia ele - de ficar bem pertinho de Deus.

Ele nos seus poucos anos de vida, às vezes chegava a confundir certas coisas filosóficas ou teológicas, mas tudo em sentido positivo.

A festa estava para se cumprir. Arthur, Manu, eu e meu pai Chiquinho, com a rainha da família, minha mãe Madá, estávamos animados e prontos para apoiar a comemoração a Nossa Senhora. Nossa casa, com ares de paz e alegria, parecia contemplar a Deus.  Rezamos por todos, pedindo misericórdia, e oramos pelos doentes da família e amigos. Um sininho pequenino, em um canto da casa, badalava cada vez que um passava e dava uma balançada nele, trazendo graças a Nossa Senhora da Guia. As velas acesas bailavam através do vento e da brisa que invadiam o ambiente e todo o nosso ser.

De repente, Manu saiu da sala e foi atender seu celular que não parava de tocar. Nesse instante, mamãe, um pouco assustada, vislumbrou a Santinha que apresentava seu olho esquerdo, antes turvo e sem luz, agora iluminado, além de um doce e meigo sorriso expresso em sua face. Assim como saiu rápido da sala, Manu retornou, chorando e sorrindo ao mesmo tempo, e foi explicando que o tio Miguel tinha ligado para anunciar a melhora considerável de sua irmã, Tudinha, que passava por um processo irreversível de uma doença que a levaria à morte. Os médicos estavam sem entender a sua melhora. Perplexos ficamos todos.

O milagre aconteceu! Disse mamãe, emocionada. Quantas orações e pedidos fizemos pelo restabelecimento da saúde de Tudinha. Todas as orações tinham como foco principal o pedido a Nossa Senhora para a sua melhora.  Nossa fé parecia se fortalecer mais e mais. Os agradecimentos eram feitos de joelhos, de pé, sentados, com humildade e força nas orações.

De longe, Tudinha rezava, grata ao Deus Supremo pela sua cura, e não cansava de enaltecer a visita que teve, na noite anterior a sua melhora, de um anjo de túnica branca, acompanhado de uma linda mulher, que a cercava e a cobria com os seus mantos branco e azul celeste.  A Virgem Maria estava ali no seu caminho, diante dos seus olhos, antes com lágrimas, agora transformadas em brilhantes safiras azuis e sorriso. Era o sorriso da Virgem Maria.

Neste mesmo momento, ecoava um som harmônico de um piano, que tocava em suaves acordes. Mãos talentosas corriam pelo teclado, trazendo beleza e encanto ao ambiente, sublimando toda a casa, as mentes e os corações de todos que ali estavam. Um caminho sonoro se formava e nossos passos acompanhavam a chuva de bênçãos que caíam dos céus sobre nós, embriagando-nos com um lindo Hino de adoração e louvor.

Era o Hino à Virgem Maria, orquestrado, não só pelo piano, mas por um lindo grupo de anjos com harpas e cantos abençoando todo o nosso lar. Apreciávamos as notas musicais que voavam pelo ar, sopradas pelos ventos, soando em ritmos de calmaria, trazendo a sensação de relaxamento e alegria as nossas vidas. O Piano, agora colorido de paixão em Cristo, tocava em movimentos festivos, e os presentes sorriam ao mesmo tempo que choravam de emoção.

Rios de lágrimas escorriam pelo meu rosto e os cabelos, de tão molhados, mudaram de cor, e minha boca seca não conseguia gritar de alegria. Assustada fiquei, tremi, balbuciei e falei em milagre, quase sucumbi, quase morri, o que não aconteceu porque ACORDEI! Acordei rezando para Tudinha: Ave Maria, cheia de Graça...

Fico agora a aguardar o milagre, convicta de que anjos de Deus descerão dos céus abençoando as nossas almas e confortando os nossos corações.

Salve Deus Senhor! Amém


sábado, 16 de março de 2024

 

Lenda sobre amizade

Diz uma lenda árabe que dois amigos viajavam pelo  deserto e em um determinado ponto da viajem discutiram. O outro ofendido, sem nada a dizer, escreveu na areia: HOJE, MEU MELHOR AMIGO ME BATEU NO ROSTO.

Seguiram e chegaram a um oásis onde resolveram banhar-se. O que havia sido esbofeteado começou a afogar-se sendo salvo pelo amigo. Ao recuperar-se  pegou um estilete e escreveu numa pedra: HOJE MEU MELHOR AMIGO SALVOU-ME A VIDA.

Intrigado,  o amigo perguntou:

_ Por que depois que te bati, você escreveu na areia e agora escreveu na pedra?

Sorrindo, o outro respondeu:

_ Quando um grande amigo nos ofende, deveremos escrever na areia, onde o vento do esquecimento e do perdão se encarrega de apagar; porém quando nos faz algo grandioso, deveremos gravar na pedra da memória do coração, onde vento nenhum do mundo poderá apagar!

Fonte: Filosofia- Mytos Editora. Com referência: http://www.bilibio.combr/mensagem/78/Lenda+ Árabe.htm/