segunda-feira, 23 de julho de 2012


Um menino de 4 anos tinha um vizinho idoso,
 cuja esposa havia falecido recentemente.
Ao vê-lo chorar, o menino foi para o quintal dele
e sentou-se, simplesmente, no seu colo.
Quando a mãe lhe perguntou o que tinha dito ao velho,
Ele respondeu:
- Nada. Só o ajudei a chorar.

sábado, 21 de julho de 2012






Estratégias de Identificação do Aluno com Altas Habilidades/Superdotação


                                          Tânia Gonzaga Guimarães/Vanessa Terezinha Alves Tentes de Ourofino


A identificação e a avaliação do aluno com altas habilidades/superdotação têm se constituído um desafio para educadores e psicólogos. A simples rotulação de indivíduo com altas habilidades/superdotação não tem valor ou importância se não for contextualizada dentro de um planejamento pedagógico ou de uma orientação educacional. Além disso, o processo de identificação deste aluno deve ter como base referenciais teóricos consistentes e resultados de pesquisas sobre o tema. Portanto, o propósito deste capítulo é discutir estratégias de identificação de alunos com altas habilidades/superdotação que ofereçam uma sistemática adequada e eficaz para atender este grupo e que seja consistente com a literatura atual. Apesar de ser uma tarefa complexa, é nosso objetivo discutir maneiras de construção do processo de identificação,
que gerem informações sobre o aluno com alto potencial e orientem a prática docente em termos do planejamento de aula, seleção de estratégias de ensino e métodos de avaliação do desempenho escolar.

PROCESSO DE IDENTIFICAÇÃO DE ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO: ASPECTOS A SEREM CONSIDERADOS

A literatura aponta a necessidade de identificação do indivíduo com altas habilidades/superdotação o quanto antes de forma a se evitar problemas de desajustamento, desinteresse em sala de aula e baixo rendimento escolar (McCoach & Siegle, 2003). A sistemática de identificação da criança superdotada deve considerar a definição de superdotação que se mostrar mais adequada ao contexto em questão. Essa identificação só terá sentido se for possível oferecer também um conjunto de práticas educacionais que venham atender às necessidades e favorecer o desenvolvimento do aluno. Ademais, estudiosos da área sugerem que a combinação de instrumentos pode assegurar um maior número de crianças identificadas como superdotadas ainda em idade pré-escolar. O processo de identificação deve estar diluído em diversas fases e a identificação precoce é necessária para assegurar o desenvolvimento saudável de crianças superdotadas. De acordo com a literatura, os instrumentos de identificação mais utilizados nos programas de atendimento aos alunos com altas habilidades/superdotação têm sido:
(a) testes psicométricos;
(b) escalas de características;
(c) questionários;
(d) observação do comportamento;
(e) entrevistas com a família e professores, entre outros.
Com relação aos testes padronizados, o escore em um teste não pode assegurar que uma criança é ou não superdotada e tão pouco pode predizer as habilidades futuras que o indivíduo irá desenvolver. Escalas e testes não fazem diagnósticos, entretanto são ferramentas importantes e servem de rastreamento, pois fornecem dados objetivos úteis para avaliação, intervenção e pesquisa (Benczik, 2000).
Colangelo e Davis (1997) afirmam que muitos alunos são prejudicados, rotulados ou considerados superdotados com baixo rendimento acadêmico, devido à falhas no processo de identificação de suas potencialidades, e sugerem que no processo de avaliação sejam incluídas atividades que verifiquem habilidades diversas como a aritmética, espaço-temporal, de seqüência lógica e de solução de problemas relacionados a situações da vida cotidiana.
Renzulli (1986) acrescenta que a avaliação deve ir além das habilidades refletidas nos testes de inteligência, de aptidão e de desempenho. O autor propõe que a ênfase seja dada nas observações colhidas por “juízes” que possam acompanhar o desempenho e as habilidades quando a criança estiver engajada em alguma atividade de seu interesse.
Esta mesma observação vale para a avaliação da criatividade, que pode ser realizada por meio da análise de seus produtos criativos, além dos testes de criatividade (Alencar & Fleith, 2001).
Aspesi (2003) relata o processo de identificação dos alunos para o Programa de Atendimento aos Portadores de Altas Habilidades da Gerência de Apoio à Aprendizagem do Superdotado e do Hiperativo da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEE/GDF) que adota o “Modelo dos Três Anéis”([1]) proposto por Renzulli. Segundo a autora, o aluno é observado por um período de até quatro meses. Nesta etapa, o aluno desenvolve atividades sugeridas a partir da aplicação do inventário de interesses e de estilos de aprendizagem (veja capítulo 3 do volume 2) nas quais a qualidade e a motivação na realização de projetos de pesquisa ou  produções são avaliadas, assim como sua capacidade intelectual e sua criatividade. Após a fase de observação, o aluno que apresentar as características de superdotação permanece no programa por tempo indeterminado para desenvolver projetos em sua área de interesse e habilidade sendo acompanhado por professores das salas de recursos.
Os professores das salas de recursos são professores da SEE/GDF, com formação em áreas específicas, selecionados e capacitados com o objetivo de atender essa clientela.  As salas de recursos contam também com o trabalho de um psicólogo e de um professor chamado professor itinerante cuja função é promover o recrutamento dos alunos em escolas públicas e particulares, sensibilizar pais, professores e alunos para a temática das altas habilidades/superdotação e buscar audiência para as produções realizadas nas salas de recursos. Durante a permanência no programa o aluno desenvolve seu portfolio registrando todas as informações relevantes sobre suas habilidades, interesses e áreas fortes (fonte importante de informação sobre o aluno) e tem a oportunidade de desenvolver produções criativas e de participar de eventuais exposições, concursos e projetos em sua área de interesse.
A identificação do aluno com altas habilidades/ superdotação requer a realização de uma seqüência de procedimentos, tornando o processo capaz de detectar os alunos com potencial superior. Esses procedimentos devem incluir etapas bem definidas e instrumentos apropriados, formando uma combinação entre avaliação formal e observação estruturada no próprio contexto da escola, permitindo avaliar conhecimentos, estilos de aprendizagem e de trabalho do aluno. É importante que a identificação seja um processo contínuo. Isto significa acompanhar o aluno mesmo após seu ingresso em um programa para alunos com altas habilidades/superdotação.
Na verdade, a identificação deve ser enriquecida por outras fontes de informação, de forma a privilegiar uma visão sistêmica e global do indivíduo e não somente sua inteligência superior medida por meio de um teste de QI. Informações colhidas junto aos professores, aos pais, indicação por colegas e auto-indicação também são importantes.
A identificação dos indivíduos intelectualmente superdotados é tarefa desafiadora, tendo em vista questões polêmicas que envolvem o fenômeno da superdotação. Entre elas podemos destacar a controvérsia sobre a definição de inteligência e superdotação, as limitações de qualquer avaliação subjetiva ou objetiva, as limitações dos atuais testes psicométricos etc.

A RELAÇÃO ENTRE INTELIGÊNCIA, QI E SUPERDOTAÇÃO - Não se pode negar o avanço considerável nas concepções acerca dos indivíduos  superdotados. Algumas mudanças provocaram rupturas no paradigma tradicional, principalmente no que tange à valorização do contexto em detrimento da concepção exclusivamente hereditária, à visão dinâmica do desenvolvimento de habilidades e comportamentos do superdotado ao invés de uma visão estanque e linear deste processo.
Historicamente, a concepção de superdotação foi acoplada a inteligência como um construto mensurável e, assim, identificada a partir do escore oriundo de testes de inteligência. Conseqüentemente, o QI foi considerado a medida ideal da inteligência humana, abrangendo a totalidade do potencial intelectual de um indivíduo e, durante  décadas, dominou o processo de identificação. Entretanto, com os avanços nos estudos sobre a inteligência e a adoção de uma visão multidimensional deste construto, os testes de QI passaram a ser questionados e considerados mais como uma medida de um conjunto específico de habilidades mentais num determinado contexto do que um reflexo de uma capacidade mental global. Além disso, se pensarmos em motivação, autoconceito
e criatividade como dimensões relevantes na superdotação, posição defendida por muitas abordagens sobre o fenômeno, o uso exclusivo de testes de QI perde a sua função e relevância, tendo em vista a necessidade de se incluir e instrumentos que investiguem estas outras dimensões (Reis & Renzulli, 2004).

PROCESSO DE IDENTIFICAÇÃO DO ALUNO COM ALTAS HABILIDADES / SUPERDOTAÇÃO

O processo de identificação do aluno com altas habilidades/superdotação deve envolver uma avaliação abrangente e multidimensional, que englobe variados instrumentos e diversas fontes de informações (como indivíduo, professores, colegas de turma e familiares), levando-se em conta a multiplicidade de fatores ambientais e as riquíssimas interações entre eles que devem ser consideradas como parte ativa desse processo (Bronfenbrenner, 1999; Chagas, Aspesi & Fleith, 2005).
Com a modificação do conceito de superdotação, também se alterou a metodologia utilizada para a identificação do aluno com altas habilidades/superdotação. Isso porque, atualmente, as características como criatividade, aptidão artística e musical, liderança, entre outras, são também consideradas, porém não são medidas por testes de inteligência, tornando essa identificação bem mais complexa. Portanto, cabe a utilização de instrumentos e atividades alternativas, numa perspectiva mais qualitativa para acessar
esta variedade de características. Tais instrumentos devem considerar o contexto sócio-cultural do indivíduo, assim como as características observadas no processo de identificação e o atendimento especializado disponível. É importante destacar que cada profissional/equipe interdisciplinar organizará o próprio conjunto de materiais que orientará suas ações.
Nesta perspectiva, é importante destacar o julgamento, avaliação e observação do professor. Ele desempenha um papel significativo no processo de identificação do aluno com altas habilidades/superdotação. Assim, é possível solicitar ao professor que indique, por exemplo, o aluno mais criativo da turma, o aluno com maior capacidade de liderança, o aluno com maior conhecimento e interesse na área de ciências, o aluno com maior vocabulário, o aluno com pensamento crítico mais desenvolvido etc (Gowan, 1971). Delou (1987) também elaborou uma lista de indicadores de superdotação que serve de parâmetros para observação de alunos em sala de aula. Alguns exemplos destes indicadores são:
O aluno demonstra prazer em realizar ou planejar quebra-cabeças e problemas em forma de jogos;
O aluno mantém e defende suas próprias idéias;
O aluno sente prazer em superar os obstáculos ou as tarefas consideradas difíceis;
O aluno dirige mais sua atenção para fazer coisas novas do que para o que já conhece e/
ou faz;
O aluno usa métodos novos em suas atividades, combina idéias e cria produtos diferentes;
O aluno põe em prática os conhecimentos adquiridos.
A Escala para Avaliação das Características Comportamentais de Alunos com Habilidades Superiores - Revisada, desenvolvida por Renzulli, Smith, White, Callahan, Hartman e Westberg (2000), a ser respondida pelos professores, é também uma opção no processo de identificação. A escala avalia a freqüência com que certos comportamentos relacionados, em especial, à aprendizagem, criatividade e motivação são registrados no dia-a-dia do aluno. Exemplos de itens desta escala são:
APRENDIZAGEM
O aluno demonstra vocabulário avançado para a idade;
O aluno possui uma grande bagagem de informações sobre um tópico específico;
O aluno tem facilidade para lembrar informações;
O aluno tem perspicácia em perceber relações de causa e efeito.
CRIATIVIDADE
O aluno demonstra senso de humor;
O aluno demonstra espírito de aventura ou disposição para correr riscos;
O aluno demonstra atitude não conformista, não temendo ser diferente;
O aluno demonstra imaginação.
MOTIVAÇÃO
O aluno demonstra obstinação em procurar informações sobre tópicos de seu interesse;
O aluno demonstra persistência, indo até o fim quando interessado em um tópico ou  problema;
O aluno demonstra envolvimento intenso quando trabalha certos tópicos ou problemas;
O aluno demonstra comportamento que requer pouca orientação dos professores.
Guenter (2000) sugere também indicadores de observação em sala de aula. O professor é convidado a indicar dois alunos de sua turma que apresentam características como os melhores da turma nas áreas de linguagem, comunicação e expressão; os mais  curiosos,
interessados e perguntadores; os de melhor memória; os mais críticos com os outros e  consigo próprios; mais originais e criativos; mais solitários e ignorados; os mais seguros e confiantes de si; os mais entediados, desinteressados, mas não necessariamente mais  atrasados, entre outras. O professor pode ainda fornecer informações acerca dos  interesses, hobbies, atividades extracurriculares, hábitos de leitura e características do aluno em avaliação, além de participação em projetos especiais, quando for o caso.
A indicação por parte de colegas de turma é uma alternativa a ser utilizada no processo de identificação do aluno com altas habilidades/superdotação (Feldhusen, 1998; Renzulli & Reis, 1997), porém pouco explorada. É possível perguntar aos alunos de uma classe:
Quais são os alunos de sua turma que sempre têm muitas idéias boas?
Quais são os alunos de sua turma que desenham muito bem?
Quais são os colegas que são muito bons em matemática?
Quais são os colegas de turma que sempre têm idéias diferentes?
Em sua sala de aula, quem você pediria ajuda em seu dever de casa de ciências?
Em sua sala, quem você considera o melhor esportista? Músico? Escritor?
Em sua sala de aula, quem tem mais senso de humor?
Em sua sala, quem é o melhor aluno?
A auto-indicação para participar em um programa de atendimento ao superdotado é uma estratégia também pouco utilizada, porém o seu uso tem sido especialmente encorajado no processo de identificação de alunos com altas habilidades/superdotação do ensino médio, provenientes de área rural ou de nível socioeconômico desfavorecido (Davis & Rimm, 1994; Freeman & Guenther, 2000). Em um formulário de auto-indicação, o aluno aponta as áreas em que ele julga que apresenta alta habilidade ou talento, descreve projetos e/ou atividades desenvolvidas por ele que ilustram seu desempenho superior na área, lista livros que ele leu relacionados a sua área de interesse, justifica seu interesse em participar de um programa especializado, descreve hábitos de leitura, áreas de interesse etc. (Feldhusen, 1998; Renzulli & Reis, 1997). A família constitui também uma excelente fonte de informações que não pode ser negligenciada no processo de identificação do aluno com altas habilidades/superdotação. Os pais podem ser solicitados a indicar atividades, na escola e fora do contexto escolar, que seu filho gosta de realizar, descrever características, áreas de interesse e de destaque do filho, relatar o processo de desenvolvimento de seu filho ao longo dos anos (por exemplo, quando aprendeu a andar, a falar, a ler, a escrever etc.), comentar sobre relacionamento do filho com membros da família e colegas, descrever o desempenho escolar do filho e seu envolvimento com as tarefas escolares. Renzulli e Reis (1997) apresentam uma lista de características do aluno a ser respondida pelos pais durante o processo de identificação. Trata-se de uma escala em que os pais avaliam a freqüência do comportamento ou situação listada, além de apresentar exemplos que se aplicam a seu filho. Exemplos de itens são:
Meu filho gasta mais tempo e energia que seus colegas da mesma idade em um tópico de seu interesse;
Meu filho estabelece metas pessoais e espera obter resultados do seu trabalho;
􀀗 Meu filho continua a trabalhar em um projeto mesmo quando este apresenta problemas ou os resultados demoram a surgir;
Meu filho sugere maneiras imaginativas de se realizar atividades, mesmo que as sugestões não sejam, algumas vezes, práticas;
Meu filho usa materiais de forma original;
Meu filho gosta de brincar com idéias, imaginando situações que provavelmente não ocorrerão.
Meu filho acha engraçadas situações que normalmente não são consideradas engraçadas
pelos colegas de sua idade;
Meu filho prefere trabalhar ou brincar sozinho ao invés de fazer alguma coisa apenas para fazer parte de um grupo.
No caso da equipe de avaliação contar com um psicólogo, testes e escalas de inteligência, criatividade e autoconceito poderão ser aplicadas, já que é prerrogativa deste profissional o uso de instrumentos psicológicos. O Teste Torrance do Pensamento Criativo, por exemplo, é o único teste de criatividade traduzido e validado para a realidade brasileira (Wechsler, 2002). O objetivo do teste, utilizado em diversos países, é avaliar dimensões relacionadas ao processo criativo por meio da produção criativa expressa de forma verbal e figurativa. Entre as características criativas avaliadas, destacam-se:
(a) fluência, capacidade de gerar um grande número de idéias e soluções para um problema;
(b) flexibilidade, habilidade de olhar o problema sob diferentes ângulos e mudar os tipos de propostas para sua solução;
(c) originalidade, que envolve a produção de idéias inusuais e diferentes;
(d) elaboração, capacidade de produzir idéias raras ou incomuns, quebrando padrões habituais de respostas.
O psicólogo poderá ainda realizar entrevistas com pais e professores com vistas a obter informações sobre o desenvolvimento do aluno, características, interesses e desempenho escolar.
Outras fontes que podem fornecer ricas informações acerca do aluno são jogos, exercícios e dinâmicas. Jogos de quebra-cabeça e memória, por exemplo, auxiliam na avaliação de características associadas a superdotação. O desempenho do aluno em exercícios de criatividade e autoconceito também oferece subsídios importantes no processo de identificação de altas habilidades. Alguns exemplos destes exercícios são apresentados, a seguir, com base no livro de Virgolim, Fleith e Neves-Pereira (2005). No exercício “Auto-Inventário”, por exemplo, o aluno é convidado a listar suas habilidades e talentos, suas áreas de conhecimento e experiência, seus traços de personalidade e qualidades positivas, suas realizações mais importantes e as pessoas mais importantes de sua vida. Na atividade “Explorando minhas Habilidades”, é pedido que o aluno relacione tudo o que sabe fazer muito bem, o que ele sabe que faria bem se tentasse e o que ele gostaria de aprender a fazer muito bem. Na atividade “Galeria de Personagens”, um quadro com o nome de diversos personagens é apresentado (Xuxa, Ronaldinho, Cinderela, o Patinho Feio, Pinóquio etc). É pedido ao aluno que ele escolha alguns personagens e escreva o que ele poderia ter em comum com cada um deles. No exercício
“Carteira de Identidade”, o aluno é solicitado a dar informações sobre seu nome, como gosta de ser chamado, o que ele mais gosta nele, o que ele gosta de fazer nas horas vagas, a palavra e o número que melhor representam a pessoa que ele é etc. Outra atividade interessante é “Sentenças Incompletas” em que o aluno completa frases tais como:
A coisa que eu mais gosto em mim é ...
Eu gostaria que meus amigos ...
Eu gostaria de ser ...
O mundo seria muito melhor se as pessoas ...
A coisa que mais me preocupa atualmente é ...
Acho muito engraçado ...
Entre outros exercícios que estimulam a criatividade e imaginação, salientam-se: “Invertendo as Coisas” em que o aluno tenta descobrir o que há de bom nas situações ruins e o que há de mal nos aspectos ou momentos bons (por exemplo, você acaba de ganhar aquele brinquedo que tanto queria. O que tem de ruim nisso?), “A Branca de Neve e o Sílvio Santos”, em que o aluno tem que imaginar uma conversa telefônica entre a Branca de Neve e o Sílvio Santos, e “O que Aconteceria se...”, em que o aluno é convidado a pensar em conseqüências para situações como “o que aconteceria se as pessoas, em vez de falar, só pudessem cantar?”. Concluindo, a grande maioria dos pesquisadores parece concordar que uma única fonte de informação jamais será suficiente. Segundo Alencar e Fleith (2001), o desempenho superior pode estar mais relacionado à vida familiar, aos traços de personalidade e ao engajamento em atividades de seu interesse, do que simplesmente às habilidades cognitivas superiores. Por isso, segundo Aspesi (2003), o processo de identificação dos alunos com altas habilidades/superdotação deve ter uma concepção flexível, levando-se em conta os aspectos qualitativos e dinâmicos do aluno, a participação da família e o envolvimento de uma equipe interdisciplinar.

FORMAÇÃO DE UMA EQUIPE INTERDISCIPLINAR - Entre tantas propostas inclusivas e continentes ao atendimento especializado, é importante ressaltar a necessidade de uma articulação interdisciplinar que busque acompanhar o desenvolvimento do aluno com necessidades educacionais especiais, repensar estratégias de ensino que se aproximem mais de uma rede de serviço essenciais para a inclusão educacional e para a qualidade de vida dessas pessoas (Brasil, 2005). No paradigma da interdisciplinaridade, a prevalência não está no discurso de uma ou outra especialidade, mas na articulação entre si e na concepção do indivíduo discutida por todas as áreas. Neste sentido, a ação interdisciplinar constrói-se por meio de uma equipe com o papel fundamental de unir os saberes nesse campo de intervenção. Além disso, ela tem a função de acolher o aluno e sua família com seus questionamentos e suas expectativas, bem como a escola carente de informações e orientações.
A equipe será formada, de preferência, com os profissionais das áreas de Educação, de Psicologia e outras envolvidas de forma direta ou indireta com a Educação Especial, com atitude de compartilhar seus conhecimentos, idéias e concepções teóricas que fundamentam suas práticas.
Sob o enfoque da inclusão, a equipe interdisciplinar deve elaborar alternativas metodológicas e condições favoráveis para a operacionalização da educação dos alunos, neste caso com altas habilidades/superdotação, buscando uma postura mais investigativa, reflexiva e de aperfeiçoamento contínuo (Ourofino, 2005). A partir de um conjunto de registros, é possível alcançar algumas dimensões subjetivas em relação ao desempenho acadêmico, intelectual, social e emocional do aluno. Faz-se necessário, portanto, que a equipe construa um espaço contínuo de interlocução entre os profissionais na busca de soluções e de novas formas de trabalhar suas práticas educacionais, se fortalecendo para lidar com os impasses do cotidiano do ambiente escolar.
É imprescindível que se tenha uma política de formação continuada para os profissionais da equipe, na qual estes tenham um espaço para discutir suas concepções teórico-práticas, evitando viés e noções errôneas sobre este tema, bem como refletir sobre o seu desejo e a sua atuação na equipe, sabendo que o aluno é o foco principal do processo.

A IDENTIFICAÇÃO DA DUPLA EXCEPCIONALIDADE

A dupla excepcionalidade entre superdotados e o paradoxo que se forma a partir da combinação de alta inteligência, múltiplas potencialidades e possíveis desordens comportamentais e emocionais, há muito têm atraído o interesse e a curiosidade de pesquisadores e profissionais das áreas que lidam diretamente com essa temática.
Apesar da relevância deste tema, a dupla excepcionalidade é ainda uma área de pesquisa em desenvolvimento e pouco reconhecida. Entretanto, tem se observado um aumento de casos de dupla excepcionalidade ou de múltiplos diagnósticos na superdotação (Ourofino, 2005).
Vários estudiosos fazem referência à vulnerabilidade presente no desenvolvimento dos indivíduos com potencial superior, principalmente nas áreas comportamental, emocional e de ajustamento social. Neihart (2003), por exemplo, apontou que alunos com altas habilidades/superdotação não enfrentam mais problemas de ordem emocional e social que outros grupos de alunos. A diferença se encontra quando se vêem diante de situações de riscos para seu desenvolvimento sócio-emocional e suas necessidades não são atendidas adequadamente.
Nesta perspectiva, a identificação de alunos que apresentam dupla excepcionalidade também se mostra complexa por não possuir um modelo com critérios pré-estabelecidos, sendo a utilização de múltiplas intervenções um modelo mais aceitável, considerando as variáveis envolvidas na condição de dupla excepcionalidade (Ourofino, 2005).
Na fase de identificação, os profissionais devem ficar atentos aos aspectos relacionados à
criatividade, inteligência, autoconceito, desatenção e impulsividade dos alunos, não confundindo com comportamentos de irresponsabilidade ou de recusa, uma vez que muitas características de alunos com altas habilidades/superdotação podem ser erroneamente interpretadas como dificuldades de desenvolvimento. A observação sistemática de aspectos inusitados de comportamentos e respostas inadequadas, bem como o processo de reunir informações, permitem que os profissionais tomem certas decisões quanto ao encaminhamento mais adequado. É indispensável que, ao se deparar com condições tão diferenciadas em que um indivíduo altamente inteligente sofra por não atingir expectativas acadêmicas e sociais, se busque avaliação interdisciplinar contando com ajuda de profissionais, não só da área psicológica e pedagógica, mas também da área médica.O processo de identificação da dupla excepcionalidade por não ser bem esclarecido, ainda acarreta diagnósticos imprecisos e prejuízos para indivíduos que se submetem a estas avaliações. O reconhecimento de subpopulações especiais entre indivíduos superdotados tem atraído a atenção dos estudiosos que buscam compreender os indivíduos superdotados que exibem processos diferenciados e  seu desenvolvimento, tais como dificuldades emocionais e comportamentais, dificuldades de aprendizagem, dislexia, síndrome de Asperger, entre outras condições incompatíveis com as características de superdotação. Essas condições, apresentadas a seguir, geralmente se manifestam pela primeira vez na infância e acompanham o indivíduo por toda a vida.

ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

Sabe-se que as estratégias tradicionais de identificação impedem que as altas habilidades sejam verificadas em alunos que apresentam baixo rendimento ou fracasso escolar. Inicialmente, parece uma contradição a coexistência dessas duas dimensões, porém estudos recentes estão mostrando que existe a possibilidade de alto potencial em alunos com dificuldade de aprendizagem. A mudança desse paradigma se dá na utilização de métodos diversificados de identificação dessa provável dupla excepcionalidade.
De fato, o processo de identificação de alunos com altas habilidades/superdotação com dificuldade de aprendizagem envolve a obtenção de evidências que apóiem a presença de uma dificuldade específica por um lado e o alto potencial por outro. Entretanto, o fato de uma excepcionalidade ser primeiramente diagnosticada, não pode ser motivo para ignorar comportamentos que sejam indicativos da outra (Baum, Owen & Dixon, 1991). O processo de identificação tem início quando os pais ou professores suspeitam que o aluno esteja com dificuldades escolares, já que seu desempenho acadêmico é baixo e sua motivação é reduzida. Esses alunos podem encantar com sua fluência verbal, porém sua escrita e ortografia contradizem essa imagem. Algumas vezes esses alunos, que parecem
saber tudo, se mostram esquecidos, desorganizados e desinteressados.
Portanto, o encaminhamento deve ser feito para a equipe interdisciplinar, no qual os profissionais se utilizam tanto dos testes formais quanto das análises observacionais para coletar os dados com o intuito de identificar características desta população específica. A identificação deve ser dinâmica envolvendo atividades elaboradas para produzir respostas criativas e alertar os professores para as possíveis áreas de habilidades e interesse do aluno.
É importante lembrar que os profissionais devem oferecer estratégias de aprendizagem e técnicas compensatórias para ajudar esses alunos com altas habilidades/superdotação e dificuldades de aprendizagem a lidarem com a dualidade de seus comportamentos para o aprendizado. É consenso entre os pesquisadores da área de que uma das melhores maneiras de intervir junto à criança superdotada com TDAH é o desenvolvimento de um planejamento individualizado que acomode tanto o seu potencial superior quanto sua dificuldade (Moon, 2002; Webb & cols., 2005).

ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO COM A SÍNDROME DE ASPERGER

Muitos estudiosos apontam que a Síndrome de Asperger é uma categoria relativamente nova de desordem do desenvolvimento. Embora esse quadro clínico tenha sido descrito originalmente na década de 1940 por Hans Asperger, a síndrome de Asperger foi oficialmente reconhecida em 1994 no “Manual de Diagnóstico e Estatísticas de Desordens Mentais”.
Alunos com a síndrome de Asperger, em sua maioria, são diagnosticados erroneamente gerando muitas dúvidas quanto à escolarização mais adequada para essa população. Crianças com esta síndrome se diferenciam quase que exclusivamente pelos aspectos cognitivos avançados e a manutenção de dificuldades sociais e de interação.
Esta síndrome é caracterizada por dificuldades no relacionamento social e comportamento repetitivo. Indivíduos com Síndrome de Asperger apresentam inabilidade e falta de interesse em interagir com seus pares, desatenção com relação a pistas sociais, uso limitado de gestos, expressão facial limitada, fala em tom monótono e repetitivo, dificuldade em expressar emoções, dificuldade em entender a perspectiva do outro em uma conversação, dificuldade em manter contato visual com o outro e baixa tolerância a mudanças (Alencar & Fleith, 2001).
O aluno com altas habilidades/superdotação que apresenta esta síndrome expressa ainda
características como fluência verbal, excelente memória e grande interesse por um tópico em especial. Neste aspecto, o processo de identificação tem uma significativa importância, pois por meio dele esses alunos terão a chance de serem encaminhados para um programa específico. A identificação dessa dupla excepcionalidade está apoiada em critérios amplos, de preferência realizada por uma equipe interdisciplinar, instrumentalizada com base em referencias teóricos e resultados de pesquisas na área.

ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE (SD/TDAH)

A condição descrita pelo Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é neurobiológica e caracterizada por níveis de desenvolvimento inapropriados de atenção, comportamento hiperativo e impulsividade. As características e intensidade desses sintomas afetam o desenvolvimento emocional, social e acadêmico do indivíduo. É uma condição multifacetada resultante não só de um aparato biológico susceptível, mas também da interação do indivíduo com seu ambiente (Barkey, 1990; Chae, Kim & Noh, 2003). O grupo de indivíduos com TDAH é bastante heterogêneo em termos de aprendizagem, comportamento, relacionamento interpessoal e pode apresentar outras características especiais como as de superdotação. A literatura tem apontado o TDAH como um dos preceptores de baixo desempenho acadêmico e produção criativa, dificuldades de aprendizagem, comportamentos de risco social e dificuldades emocionais, principalmente entre crianças muito inteligentes.
As dificuldades relacionadas aos transtornos de atenção não constituem privilégio de grupos étnicos ou de classes sociais e são motivo de preocupação médica e social, na extensão em que é difícil reconhecê-las e tratá-las.
Crianças com SD/TDAH diferem de crianças superdotadas e de crianças hiperativas de vários modos, principalmente em relação ao impacto de avaliações que afetam o planejamento de sua vida social e escolar, bem como critérios de tratamento e intervenção (Baum, Olenchak & Owen, 1998). O critério mais relevante para diagnosticar SD/TDAH é o grau de deterioração experimentado pela criança nos aspectos relacionados a superdotação e TDAH. Um aspecto muito importante na identificação da superdotação é a constatação de habilidades, em uma ou mais áreas, distintamente acima da média de seus pares. Na identificação do TDAH é importante determinar se atenção inconstante é um ponto de vulnerabilidade para a criança e definir se um modelo de apoio para o processo de construção de autoconceito positivo auxilia no resgate de aspectos positivos dessas condições (Cramond, 1995). Webb e Latimer (1993) relatam que a tendência do indivíduo superdotado com TDAH é manifestar características relacionadas ao transtorno: baixa atenção, tédio, dispersão em situações específicas, baixa tolerância para persistir em tarefas que parecem irrelevantes, dificuldade em manter a atenção em tarefas de rotina, dificuldade em monitorar seu progresso em projetos a longo prazo, julgamento aquém do desenvolvimento intelectual, questionamento de regras e autoridades e alto nível de atividade psicomotora.
Para estes autores, em algumas circunstâncias, o superdotado com TDAH consegue mascarar sintomas do transtorno, dificultando a realização de uma avaliação mais precisa.
Uma visão mais fundamentada sobre a coexistência de superdotação e do Transtorno do Déficit de Atenção /Hiperatividade requer a retomada de variáveis diretamente envolvidas na condição de dupla excepcionalidade (Webb & cols., 2005). Neste sentido, na avaliação, os profissionais envolvidos devem aprofundar suas investigações nos aspectos relacionados à criatividade, inteligência, autoconceito, desatenção, hiperatividade/impulsividade e contar com exames de exclusão diagnóstica e pareceres neurológicos.
O conhecimento das características de superdotação e dos critérios de identificação do superdotado é também essencial neste processo. Para finalizar, crianças que são privilegiadas em ter uma avaliação física completa e avaliações psicológicas aprofundadas, que incluam exame do nível intelectual, do desempenho e aspectos emocionais, têm melhores chances de serem identificadas com precisão. A avaliação deve ser seguida de adaptações curriculares apropriadas e utilização de técnicas instrucionais diversas que correspondam ao conhecimento avançado, estilos de aprendizagem diversos e vários tipos de inteligência. Consideração cuidadosa e avaliação
profissional apropriada são necessárias antes de concluir se a criança possui ou não dupla excepcionalidade.


[1] Neste modelo, comportamentos de superdotação são considerados resultados da interação de três fatores: habilidade acima da média, criatividade e envolvimento com a tarefa.

Dinâmica

Entregue uma folha de papel aos participantes com a seguintes orientações:

Explique os objetivos que você pretende com a atividade porque ela
pode favorecer vários objetivos. Se for para provocar ao grupo fazer
uma auto - avaliação sobre o trabalho ou sobre o curso, faça o
seguinte:

1.Solicite que individualmente passem uma linha horizontal no Centro
da folha; depois solicite que cortem a linha horizontal com outra
linha vertical e marquem na divisão um ponto 0; explique que as duas
linhas formarão quatro quadrantes: dois superiores e dois inferiores;

2. Agora todos deverão pensar e escrever nos quadrantes superiores o
seguinte: antes do zero as atividades ou realizações que a pessoa
considera que foram experiências positivas (já realizadas); depois do
zero, ainda no quadrante superior, colocar as expectativas (o que
pretende alcançar, realizar); Nos dois quadrantes inferiores colocar o
seguinte: antes do zero o que já realizou e considera que não
representou positividade (experiências que considera limitantes e que
não alcançaram os objetivos pretendidos); no quadrante inferior,depois
do zero, colocar os pontos limitantes ou as dificuldades que a pessoa
acha que enfrentará para alcanças os seus objetivos;

3. Depois, o coordenador da atividade ,deverá abrir um tempo para as
pessoas que quiserem comentar a sua auto-avaliação.
Você pode direcionar para outras finalidades: reflexão sobre a
história de vida, sobre alguma ação específica, sobre o trabalho,sobre
o curso que participaram, etc.
Receita Para Amar
Autor: Flávio Sátiro Fernandes


Receita para amar

Deixa o coração te dominar,
não ligues para a razão.
se necessário, bota um pouco de paixão, 
não muito, pois embriaga.
usa também, de ternura,
carinho, afeto, dedicação.
Compreensão à vontade,
não faz mal.
Mistura tudoisso
em fogo brando
 o beijo virá, docementee.

 A lei da inclusão é para todas as escolas, particulares, estaduais, municipais? Em qual situação uma escola pode negar a matrícula de uma criança com deficiência?
Nenhuma escola pública ou particular pode recusar a matrícula de crianças com deficiência. Segundo o artigo oitavo da Lei Federal 7.853/89, é crime punível com reclusão de um a quatro anos e multa “Recusar, suspender, cancelar ou fazer cessar, sem justa causa, a inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado, porque é portador de deficiência.”
O Ministério Público informa que considera-se “justa causa” quando a escola: não tem mais vagas para nenhum aluno, com deficiência ou não;
• quando a escola já tem mais de 14,5% dos alunos com deficiência porque,
caso receba uma quantidade de alunos com deficiência maior do que as
proporções indicadas no Censo (14, 5%), a escola corre o risco de se
especializar e tornar-se uma escola especial, comprometendo os princípios
da educação inclusiva.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

"Ver o mundo em um grão de areia.
E o céu em uma flor selvagem.
É ter o infinito na palma da mão
E a eternidade em uma hora."
                               William Blake.