BENJAMIM
Conto de Eliane Dutra Fernandes
O
vento balançava as folhas com uma velocidade descomunal, os galhos despencavam pelo
impulso da ventania e os campos floridos se misturavam com terras, galhos,
folhas e pétalas de rosas. Algo acontecia mostrando um fenômeno que estava para
vir. A imaginação apavorava o pequeno Benjamim, seus óculos já embaçados não o
impediam de enxergar o que à sua frente aparecia. O real o confundia com a sua
mente fértil de criança observadora, quieta, calada, surpreendente e até um
pouco estranha. Naquele caminho agora íngreme, dificultoso e sem a bela
paisagem que antes exibia, surgia
espantosamente de um fumaçeiro aquele bichinho de olhos compridos e boca
larga, orelhas grandes e antenas pontiagudas na cabeça. Uau!
Benjamim
não conseguia falar nem gritar, mas de boca entreaberta e tremendo sem parar,
começava a ativar seus neurônios, que em conexão geral com aquele espaço,
aquele momento e aquele tipo sobre humano, já fazia as coordenadas para um
entendimento racional e profundo.
O
pensamento o levava a um diálogo telepático, silencioso, mudo, ardente e
originalmente superior a qualquer outra forma de contato conhecida.
- O que queres e pra que viestes
?
-
Eu vim para te ver e castigar tal mundo ruim.
-
Não sabes o que dizes nem conheces o meu mundo...
-
Mostra-me, garoto, então!
Para
aquele pequeno orelhudo o mundo apresentava uma estampa suja, feia, as pessoas
desumanas, assassinas, corruptas, ladrões de vida e de bens materiais, o
ambiente destruído, queimadas, secas...
De
mansinho tudo ia clareando, a fumaça se dissolvia e o Benjamim, solto e livre
de traumas, seguia calmo e feliz para sua casa. Terá sido sonho? dizia ele. Claro
que sim e ria, ria, ria...
No
caminho de casa lá estava o velhinho que atenciosamente Benjamim protegia. Protegia-o
nos dias de chuva, levando-o para a garagem de sua casa, dava-lhe roupas
quentes e facilitava-lhe um banho, comida e boa dormida. Benjamim, no entanto, não
tirava do seu pensamento aquele ser orelhudo,
pequeno, mas que não lhe dava medo. Como gostaria de vê-lo novamente, Terá sido
sonho?
Na
escola, os colegas o olhavam e sempre
alguém dizia “que estranho este Benjamim”. Olha mesmo o que está a fazer. Em
vez de brincar no recreio está ele ajudando ao mais preguiçoso da sala nos seus
deveres, está lá, tentando ensinar alguma coisa. Mas veja agora! Ele não se
defende nem das ofensas que fazem a ele. Hoje mesmo o chamaram de cego pelos
óculos de grau que ele usa, o chamaram de desengonçado e magrelo. É mesmo um
tonto, diziam. Professora, professora, como este lerdo tira notas tão altas?
Enquanto
isso, Benjamim organizava um pequeno local para ensinar a uns pequenos que
tinham dificuldades em aprender. Ao
mesmo tempo, com um dos seus amigos resolveu fazer um movimento e criar também uma horta na
Escola e em outra Escola vizinha compartilhar
a ideia e convencer a diretora a plantar
fruteiras com a ajuda de alguns pais que entendiam de plantações.
Um
dia, Benjamim passava por uma das ruas quando observou um grupo pequeno de
pessoas ao redor de um espaço conversando,
gesticulando e apontando para o chão.
Que bom vê-los aqui! Disse o Benjamim.
Será que tiveram a mesma ideia que eu? Uma linda praça poderia surgir
neste recanto tão belo. Sim, sim,
disseram, era isso mesmo que estávamos a discutir.
Por
trás de uma árvore frondosa, exuberante
e majestosa, Benjamim tornou a ver aquele orelhudo desengonçado, de dedões azuis
acenando para ele. Não estou sonhando, será que não estou sonhando? Ele
está me observando, me seguindo.
Uma
nova visão deslumbrou o tal visitante que de tão pelado e magrinho que era,
mostrou-se como um lindo Anjo encantado e cheio de doçura. O que teria mostrado
o Benjamim de tão maravilhoso para essa transformação metamorfoseada?
Um
mundo encantado foi aparecendo em uma tela viva, crianças corriam animadas,
pais beijavam e cuidavam de seus filhos com amor e complacência, mendigos
recebiam comidas, roupas, um leito para dormir, os gatinhos e cães amaciados
pelas mãos dos donos miavam e latiam harmonicamente. Os idosos felizes recebiam
o carinho dos filhos e das meigas cuidadoras. O verde resplandecia pelos
campos do planeta
terra, as águas azuis do mar, num indo e vindo, traziam hinos de amor e
de doutrinação, as orações aconteciam em uma prova de santidade humana.
Um
outro conceito de mundo surgia com sonoridade. A música se elevava em caminhos mágicos, quantas reservas ambientais,
quantas pessoas boas, magníficas, maravilhosas, meigas, gentis, amorosas e
caridosas. Crianças que nascem como esperança para um mundo cada vez melhor. Você me
pediu que eu te mostrasse meu mundo. Eis aqui, disse Benjamim ao seu pequeno
amigo. Hum! Hum! sussurrava o Anjo em devaneio sublimado em uma nuvem branca e gloriosa.
Drogados
e marginais, assassinos , homens sem caráter, ladrões e mentirosos, invejosos e
ambiciosos, destruidores de ambientes, onde estão, cadê, então? Perguntou o Anjo,
admirado.
Benjamim
com a sua inteligência de menino Nerd, sem qualquer interesse, ambição ou mesmo temor, mostrou ao bichinho orelhudo,
agora Anjo, que a terra não era aquilo que ele se acostumara a ver e que destruir
ou castigar levaria o planeta a um mundo
de pó, de partículas que se perderiam no Universo da criação Divina. E
de braços abertos fitando aquele augusto Anjo, traduzia o seu sussurro “Que o
mundo é mundo, é vida, é beleza, é tela em que, em construção multicolorida,
o Criador lentamente desliza os seus pincéis e o vai
tornando estrela da perfeição e de amor
eterno”.
Enfeitiçado
Benjamim foi vendo o Anjo, que em
carruagem exuberante, rodeado por uma luminosidade áurea, ascendia
apresentando no azul límpido do
céu um quadro de muito exotismo, ali retratando o Planeta Terra em versão de
esperança futurista, uma pintura divinal,
extrafísica, cercada de palavras
sonoras, policromadas bem assim: PLANETA/TERRA/ESPERANÇA/ESPIRITUALIDADE.